-Aquela salada estava ótima! –a voz da garota era carregada
de um tom cinza e sem graça. A noite estava no fim, e, o que deveria ser um
encontro as cegas, forçado por alguns amigos em comum dele, dela, terminara num
desconcertante momento de silencio e comentários forçados, que inutilmente
tentavam criar a atmosfera de amizade ou algo parecido.
O taxi parou e a garota desceu, uma despedida tão quente
quanto o resto da noite, olhares desconcertados e frios, nada de muito bom
ocorreu. John era do tipo autodestrutivo pseudo escritor e movido a cafeína,
ter alguns amigos só lhe foi possível graças a boa educação, mas venhamos a nós
expectadores do universo, ele odiava a vida, não a suportava, não a queria, e
complicado como tudo na vida, não queria morrer, sujeito triste e solitário,
repetia a sí mesmo que não precisava de ninguém, nem de mulheres, amigos ou
deuses, embora volta e meia se pegava em comunhão com eles. - Noite difícil? -
o taxista interrompeu os devaneios de escritor de John, que respondeu com um
sorriso fechado e um olhar de velho quando vê os netos irem embora. - chegamos
rapaz, olha-disse o homem velho e negro que lembrava algum jogador de basquete
aposentado- eu não costumo fazer isso, até porque se fizesse morreria de fome,
mas, essa corrida fica por conta da casa.
- Como? Mas é o seu
trabalho e....
- moleque! Caras bacanas
merecem cortesias da vida, boa noite.
O taxi mal virou a esquina e John subia as escadas da
portaria de seu prédio num bairro nobre da cidade, o molho de chaves repleto de
chaveiros “engraçadinhos” sempre dificultava na hora de achar a bendita da
chave esperada. Talvez esse problema diminuísse se John parasse com a mania de
ter uma chave para cada cômodo do apartamento, nessas horas ele via que a
excentricidade cobrava sempre seu preço, tanto em encontros como num simples
momento cotidiano como este.
O parque a frente do prédio, construído graças a ações
judiciais que obrigara a construtora a ressarcir a população por ter desmatado
todo um bosque natural, continha muitas arvores exóticas, tantas quanto se
puderam plantar. Enquanto os olhos de John se regozijavam ao ver a tal chave da
portaria, sua atenção fora roubada pela sua visão periférica, que evidenciara
movimentos de pernas por entre as arvores. Sabendo que poderia não ser nada,
como poderia também ser um ladrão, John se manteve firme em pegar a chave e
abrir a porta e ainda mais, fechar a porta e correr para dentro o mais rápido possível.
Bastou chegar perto do hall de entrada do prédio e John já
sentia seguro para virar-se e olhar para trás, tentar ver o rosto da sombra por
entre as arvores. Algo estranho, como quando se acorda de um sonho muito real e
tenta se livrar da sensação de não estar nem dormindo nem acordado. John
vislumbrou um homem, muito ao longe, que caminhou para detrás de uma arvore
muito pequena para esconde-lo, mesmo assim, ele desapareceu.
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