Era uma vez um domador de pombos, um pobre e solitário homem
que domou os pombos.
Não que amasse de paixão os ratos de asas como ele os chamava,
mas após tantos anos só, envolto na penumbra com suas migalhas, os pombos
pareciam belas aves se comparados as sombras esguias de sua cidade.
Cada ser ao seu redor, consumidos de ignorância, raiva,
tristezas, e histórias pérfidas de alegria, contribuíam sempre um pouco mais
para seu amor pela solidão e pelo silencio aterrador. Todas as criaturas
desejavam dele algo só seu, seu carinho constante, incessante atenção, um
pedaço seu. Os pombos não, apenas queriam suas migalhas, seus restos.
E foi assim, num mundo tão pidão onde ninguém nada poupava
de si, onde ninguém nada dava a outrem, onde ninguém deixava de ser de alguém,
que, aquele homem solitário, com gestos de desdém, ao jogar seus restos,
capturou o coração das imundas criaturas aladas, tornou-se seu senhor, e as
domou.
Como compreender um domador de pombos, suas sacolas de
plástico cheia dos pães que secaram por não ter com quem dividir, e por isso, tê-los
deixado enrijecer pela falta de vontade de se alimentar. O que faz tal homem
vir as praças alimentar aos animais mais odiados do mundo?
Como não ter amor por esses pombos? Salvando um homem da
solidão, salvando um homem da sobriedade cortante dos dias de sol e brisa, dos
parques com folhas caindo tão lindas? Já não saberia dizer quem domou quem.
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