sábado, junho 07, 2014

Oia o trem

Texto originalmente escrito para o Pontos de Virgulas


Esta noite eu tive um sonho. Sonhei com uma ferroviária, nela, muitas pessoas. Algumas mais próximas da borda dos trilhos, outras pareciam terem recém adentrado o local. As roupas destes eram escassas, mas nobres, enquanto as roupas das pessoas próximas a borda eram numerosas, cintilantes e visivelmente caras, mas tinham um aspecto penumbroso. 

Mas talvez o que mais me chamou a atenção, foi que, as pessoas que pareciam recém adentradas, carregavam malas e bolsas, belas e vazias, e, quanto mais próximas a borda, mais velha e cheia pareciam suas malas. Foi então que vi uma mulher. Suas bagagens pareciam sobremaneira carregadas e a ponto de estourar- um apito- o trem! No mesmo instante em que seus esforçados dedos lhe propiciavam a tentativa decepcionante de agarrar as alças da mala com um ultimo esforço, podia-se ouvir o som das rotações dos comboios, o som espessava a cada novo ciclo- estava parando!


Então vi a alça escapar e fui tomado de um sibilo som em meus ouvidos, o vento parecia mais devagar, as cores já não se distinguiam. Não compreendi direito no momento o que compreendo agora, na verdade, o que senti era como naquelas ocasiões onde se tem sensação indescritível na hora, mas em pouco tempo adiante sabe-se descrever por completo até com riqueza de detalhes, como se o momento, o presente não devesse estar ali para ser explicado, mas exigisse seu direito de naquele momento ser apenas sentido.


A mala tocou o chão. O trem parou, vi a mulher entrar pela porta que se abria adiante dela. Pude perceber que outras pessoas estavam tão próximas do trem quanto ela. Ela, ao ver a porta, foi tomada de uma expressão de alegria e leveza, esqueceu-se de sua bagagem e adentrou o vagão, pude ver que outros, porém, eram puxados para o trem, mas ficavam presas as suas malas e bolsas, e por mais que o maquinista insistisse, elas não largavam suas bagagens. Pude ver o trem partir, e estas últimas pessoas viram também, e então como numa procissão de fantasmas, tentaram em vão, correr atrás do trem, arrastavam suas malas eternamente, andando pelos trilhos. 

A última visão encheu-me de profunda tristeza, em ver que alguns se prenderam a tralhas pesadas, deixando seu trem passar.


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